sábado, 1 de novembro de 2014

Mais amor e menos ódio, o primeiro passo para a melhora efetiva do país.

Sem a união da grande maioria da população brasileira, provavelmente nenhuma reforma de qualidade acontecerá. A relação respeitosa entre “direita” e “esquerda” e o consequente aumento da correlação de forças entre cidadãos e Estado, será crucial para combater os vícios do nosso sistema, como o lobby, as atitudes maquiavélicas e os interesses próprios de políticos e conglomerados econômicos. Nesse sentido, um clichê pode ser a saída: só o amor constrói.

As eleições de 2014 certamente serão uma página de destaque nos livros de história do Brasil num futuro breve. Fatos para análises e abordagens acadêmicas não faltam: as manifestações de junho, a morte do Eduardo Campos, os erros grotescos das pesquisas, o papel questionável da mídia, entre outros temas, poderão confirmar que o ano do vexame brasileiro na copa também foi um ano crucial para a evolução da nossa democracia.

Esse amadurecimento pode ser creditado aos milhões de brasileiras e brasileiros que se comprometeram com o pleito. Ruas cheias de militantes, mídias sociais batendo records de mensagens, são alguns exemplos do nível de envolvimento ocorrido. Nesse sentido, a espontaneidade da jornada de junho talvez explique o motivo de tanto engajamento, uma vez que diferentes ideologias foram as ruas com pelo menos uma ideia comum: o reconhecimento que o Brasil pode muito mais.

Todavia, a heterogeneidade desse movimento, acabou sendo inimiga dos anseios apresentados, pois a falta de diálogo entre ideologias auxiliou para dispersar e cessar as manifestações. Um exemplo disso são as poucas conquistas de curto prazo obtidas, dentre tantas reivindicações apresentadas.

O desafio agora é construir uma massa crítica que seja capaz de conviver com as diferenças a ponto de conseguir se unir em torno de um objetivo comum, quando necessário for. Dizem que o primeiro passo para consertar algo é o reconhecimento. Pois bem, praticamente todo Brasil quer mudança (e observem como o marketing de todas as campanhas abusou disso nesse pleito) então qual seria o próximo passo? O mais prudente pode ser avaliar o sistema e atacar, da maneira mais eficiente possível, as falhas que assolam o mesmo.

E aqui se observa um grande obstáculo: quem tem as melhores ferramentas para consertar o Brasil a priori, são justamente as instituições viciadas, e.g. os três poderes, a mídia e as grandes empresas (mercado capital). Por mais que existam pessoas que tenham a vontade de virar o jogo dentro de cada segmento desse, seria muita ingenuidade acreditar que essa configuração de poder, que dita as regras a tanto tempo, vai querer mudar só com uma pressão pontual.  Indubitavelmente, a cobrança deverá ser feita de maneira contínua e eficaz, até que as reformas necessárias sejam implantadas. E isso passa, necessariamente, pelo envolvimento de toda sociedade.

Sabe-se que no Brasil o maior gasto relativo com impostos é das classes de mais baixa renda - cerca de dez vezes mais comparada com a parte mais rica, segundo IPEA. Portanto, é muito difícil vislumbrar um congresso que aumentou significativamente sua quantidade de milionários, agir contra interesses próprios como a reforma tributária.

Na mesma linha de raciocínio, é praticamente impossível imaginar a mídia abraçando qualquer ideia de regulação que auxilie na quebra do oligopólio atual. Não só por interesses financeiros, mas também pela influência política que esse ramo tem (quarto poder). Muito pelo contrário, pode-se esperar da imprensa uma massiva campanha contra a sua regulamentação (que ela já chama de censura), ignorando experiências em países democráticos do mundo inteiro, desde os liberais EUA até a esquerda moderada como a Argentina, passando pela recente atitude da Inglaterra.

Outro calo no sapato certamente é o financiamento empresarial de campanha, uma vez que as grandes empresas do país não vão querer arriscar perder os seus benefícios políticos (facilitar licitações, por exemplo) que as ajudam a ter um retorno excelente de “investimento”.

Só existe um segmento da sociedade que conseguirá equilibrar forças com esses poderes a ponto de virar o jogo: a população. E, obviamente, quanto mais pessoas melhor! Tanto no campo quantitativo (pessoas nas ruas) quanto no qualitativo (diferentes pensamentos e ideais) é muito importante a participação equilibrada de todos.

A má notícia sobre a situação de momento é que o começo de uma importante luta foi bem desanimador. Com todo o ódio que foi destilado entre eleitores durante o pleito e mesmo depois do resultado de domingo (26/10) não é possível nem sonhar com algum tipo de união estável.

Uma mudança de comportamento deve ser vislumbrada! Para tanto, se objetivo é mesmo realizar as reformas necessárias para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, deve-se, no mínimo, lançar mão do velho e sempre eficiente amor e deixar a raiva de lado, sempre que possível.

O amor aqui pode representar a empatia para entender a história e as necessidades do próximo, a paciência para poder compreender o raciocínio desigual, o respeito com ideais alheias, que podem ser caminhos diferentes para o mesmo fim, e humildade para aprender as mais diferentes formas de pensamentos que por ventura apareceram.

É inconcebível, assim, ataques entre nordestinos e sulistas, petistas e tucanos, progressistas e conservadores, e por aí vai… Não só pelo ponto de vista ético ou filosófico, mas também pela lógica! Afinal, estão todos no mesmo barco que pode afundar sem o comprometimento e a ajuda mútua. O liberal assumido deve aprender a dialogar com a “esquerda caviar”, o marxista tradicional deve compreender a posição do “coxinha” e essa tolerância no debate encontrará as bases no amor entre os pares.

Vale reafirmar, por fim, que o bem do nosso país passa pelo esforço de cada cidadão em aprender a cobrar, de forma coletiva, o que lhe é de direito e foi negado por tanto tempo em detrimento de interesses de poucos. Nesse sentido, um clichê pode ser a saída: só o amor constrói! Amando mais e odiando menos, a união dos milhões de brasileiros e brasileiras será a base de uma democracia forte, na qual a vontade da subutilizada maioria efetivamente suplantará o desejo da poderosa minoria.





sábado, 2 de agosto de 2014

Aeroporto de Cláudio: no mínimo, um erro crasso do governo de Minas.

 

Tanto no planejamento quanto na execução, o "aecioporto" deixou a desejar. Os valores foram bisonhamente subestimados e a prática do projeto foi incoerente, uma vez que cidades importantes ficaram de fora do PROAERO em detrimento da "cidade dos apelidos".

 

Desde o dia 20 do mês passado, quando a Folha de São Paulo publicou uma denúncia contra o presidenciável do PSDB, o caso do aeroporto de Cláudio figura entre os mais comentados do país. Entre notas oficiais, representações no MP e notícias na imprensa e blogosfera, o fato que salta aos olhos é que muitas coisas devem ser explicadas para interesse da população, uma vez que, pelo andar da carruagem, pode-se confirmar um ato não só antiético do ex-governador de Minas, como também bem ineficiente (vale lembrar que Aécio se gaba pela ética, transparência e boa gestão pública).  Dentre as novas revelações que apareceram desde meu último post, destaca-se o uso indevido da pista não homologada, o valor que o governo de MG pode perder para o a família Neves de quase vinte e um milhões de reais e o imbróglio que acontece nas terras desde 2001

 

Planejamento do aeroporto em si parece ser bem ineficaz


Se anteriormente escrevi "uma pequena contribuição", agora decidi ir um pouco mais a fundo na questão do planejamento do PROAERO, que continua bastante controverso. Vale ressaltar que, tanto o PSDB em nota, quanto o próprio neto de Tancredo já frisaram que o aeroporto foi reformado e planejado por critérios técnicos e para o bem da população. Como esses estudos são de interesse nacional, imaginei que eles estivessem disponíveis em algum lugar e procurei até encontrar algo. Para minha surpresa, no site da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (SETOP) não foi possível achar tais documentos, todavia consegui encontrar o planejamento em eventos (de certa maneira) acadêmicos: [1] no VII SITRAER, de novembro de 2008; [2] no 1ª seminário nacional de logística e 10º seminário de transporte, de novembro de 2010 e [3] no V CONSAD, de junho de 2012.
Depois de analisar com cuidado os artigos [1] e [3] e a apresentação .ppt [2] é possível verificar que a obra do aeroporto de Cláudio foi executada de uma maneira, no mínimo, um pouco negligente. Tanto os valores envolvidos no planejamento não foram contemplados (o preço final do aeroporto foi superfaturado), como o prazo para aeroportos bem mais importantes foram atropelados em detrimento da sua construção. Em tópicos, resumo aqui o que considerei de mais relevantes nos estudos (recomendo, fortemente, que vocês leiam todas as referências para melhores conclusões): 
  •   O Aeroporto foi considerado irrelevante inclusive no PROAERO: Pelo planejamento presente em [1] e [2] o aeroporto de Cláudio se quer é considerado relevante para a região.  As figuras A (situação atual segundo [1]),  B (situação desejada em 2011 segundo [1]) e C (visão de futuro segundo [2]) mostram o antes e o depois da malha aeroviária mineira segundo os planejamentos do PROAERO. Rapidamente, um questionamento vem em mente: porque Cláudio, um município tão importante, um pólo de metalurgia da América Latina, ficou de fora dos desenhos da malha aeroviária futura? Aliás, pode-se notar que o aeroporto da região de Lagoa da Prata - que foi descartado pela SETOP em 2012 (como falei no post anterior) - estavam nos planos anteriores do PROAERO. Tem explicação abrir mão de um pelo outro?
De [1]: Malha aeroviária de Minas em 2006: o status do Proaero no ano correpondente.

De [1]: Previsão para a malha aeroviária em 2011: segundo o estudo, como deveria ficar (enquanto Cláudio está fora, Ouro Preto, Itabira e Lagoa da Prata estão no estudo).


De [2]: Na apresentação de 2010, 2 anos depois, Marco Migliorini vislumbrou uma malha completa, mas sem Cláudio outra vez.
  •   O Valor foi muito mal calculado: Observa-se, ainda, que os valores envolvidos no planejamento a priori não batem com o desembolsado pelo governo. E é curioso acontecer isso, uma vez que o governo mineiro é conhecido pela "gestão eficiente". Pela tabela 7 de [1] nota-se que o valor estimado para obras em aeroportos seria de, aproximadamente, R$ 64.000.000. Um cálculo rápido demonstra que Cláudio levou, só com obras (R$ 14.000.000 - sem contar a desapropriação), cerca de 22% desse valor. A coisa é tão díspare que se considerarmos apenas os seis aeroportos que deveriam ser construídos, em uma distribuição linear, cada um levaria por volta de dez milhões de reais. Ressalta-se aqui, que cidades mais importantes como Itabira e Ouro Preto ficaram de fora (comento mais abaixo).
    Gastos previstos segundo estudos: Cláudio levou 22% desse valor.
  •   O estudo não condiz com a realidade apontada pelo próprio PSDB: O aeroporto de Cláudio era para entrar como "melhoramento" ou "pavimentação". Por que foi considerado (e consequentemente planejado) como "Novo aeroporto"? O próprio partido questionou essa denominação do Proaero.
  •   O planejamento foi atropelado em prol da construção do aecioporto: Como pode-se verificar em [1] os aeroportos de Sete Lagoas e Chapada Gaúcha deveriam ficar pronto em 2009 e não foram. Cláudio, entretanto, era previsto para 2010 e foi feito no prazo! Detalhe para o importância indutrial e regional das cidades deixadas pra trás: SL tem o PIB quinze vezes maior que Cláudio e a CG fica numa região carente de aeroportos inclusive locais (lembrando que Cláudio fica do lado de Divinópolis). A estratégia óbvia seria concluir os primeiros, de 2009, para depois seguir para os de 2010;
  •   Se não tivesse sido feito como prioridade, Cláudio não sairia do papel: Pela reformulação do PROAERO em 2010, visto em [2] e [3], a cidade de Cláudio estaria dentro do raio de Divinópolis (100km) e, portanto, não teria necessidade da realização do aeroporto. Consequentemente, o governo mineiro errou ao priorizar essa cidade e deixar municípios como Itabira, Lagoa da Prata, Ouro Preto e outros para depois.

Mini estudo de caso: Itabira x Cláudio

 

Itabira, como se vê, poderia ter sido uma cidade igualmente contemplada pelo PROAERO segundo os planejamentos apresentados. Eu nasci em BH mas sou itabirano de coração, uma vez que passei grande parte da minha infância na cidade e, nos dias atuais, sempre que posso visito amigos e parentes por lá! Meus pais são naturais de lá, assim como tios e primos, por isso posso dizer que vivi de perto como funciona uma cidade embalada por uma multinacional.

Itabira é a cidade onde nasceu a Vale, por isso é muito (mas muito mesmo) difícil que Claudio tenha qualquer importância geopolítica maior que a terra de Carlos Drumond! Fica então a pergunta: por que Cláudio foi escolhida em detrimento de Itabira?
Seria o PIB? Itabira tem o PIB aproximadamente quatorze vezes maior que o de Cláudio. São quase 4,8 bilhões de reais contra 340 mil.
Seria o aeroporto local? Na região de Itabira não existe aeroporto regional (e nem Local) com a proximidade que existe em Cláudio. Ipatinga fica a 111 km de Itabira, quase o dobro da distâcia entre Divinópolis e Cláudio. Aqui vale ressaltar um fato interessante: o leste mineiro realmente carece de uma boa malha aeroviária. Um aeroporto em Itabira, segundo a própria SETOP, beneficiaria São Gonçalo do Rio Abaixo, que tem quase 2,8 bilhões de PIB. Sem falar nas cidade de Barão de Cocais e João Molevade, todas relevantes para a indústria mineira.
Seria a população? Itabira tem a população estimada (para 2013 segundo o IBGE) quatro vezes maior que a de Cláudio. Sem falar no turismo itabirano que, certamente, é bem superior.
Seria o valor? Já vimos que um Aeroporto no Ceará (coloquei no post anterior) foi construído por 19 milhões de reais e tem uma boa infraestrutura. Será que com 14 milhões não daria para fazer um bom aeroporto? Se não, como foram calculados os valores pelo SETOP?

O que é então? Essa pergunta eu deixo para vocês (ou o próprio Aécio que gosta muito de "conversar") responder... O que leva Cláudio a ter um aeroporto e não Itabira? 

 

Fatos relevantes

A página da SETOP está fora por causa dos períodos eleitorais o que dificulta o acesso às informações diretamente oficiais. Seria importante verificar os nomes presentes nos artigos - Julio César Diniz De Oliveira, Marco Antonio Migliorini e Rubens da Trindade - e suas posições dentro da SETOP. O que pude verificar numa rápida pesquisa do Google (não quer dizer q é verdade) foi que: Júlio já foi (ou é) Gerente do Proaero, Acessor de aeroportos da SETOP e coordenador de projetos de infraestrutura; Já Marco ocupou (ou ocupa) a posição de Diretor de Infraestrutura Aeroviária da SETOP, e Rubens já trabalhou (ou trabalha) na secretária de turismo e como gestor do núcleo de convênios no governo mineiro. Obviamente, na internet podemos encontrar de tudo, então, seria melhor verificar junto aos órgãos oficiais.

Navegando num fórum da internet, num tópico sobre aeroportos no interior de Minas, encontrei uma notícia do Anastasia anunciando a segunda fase do Proaero. As notícias oficiais, vindas do site do governo de minas, não podem ser mais encontradas: vejam aqui e aqui.

Mais detalhes sobre os estudos: [1] Programa aeroportuário de Minas Gerais, por Julio César Diniz De Oliveira e Marco Antônio Migliorini; [2] Readequação da malha aeroviária: cenários exploratórios apresentado, por Marco Migliorini e [3] Perspectivas para a política aeroportuária no estado de minas gerais: inovação e redesenho das ações frente ao novo cenário de descentralização, delegação e concessão de aeródromos públicos da união, por Rubens da Trindade.

 No artigo [3], de 2012 quando o aecioporto já estava pronto, na página 8, Rubens da Trindade cita as cidades que receberam investimento até 2010. Coincidentemente, das 23 cidades citadas no texto, duas não aparecem no desenho: Cláudio (tão importante mas fora de novo) e Ouro fino.

Em mais uma figura, o importante aeroporto de Cláudio é menosprezado (mesmo sendo citado no parágrafo anterior).

 

Opinião


Sinceramente, quanto mais pesquiso concluo que o governo não tinha alguma justificativa palpável para fazer esse aeroporto. Cláudio não só é uma cidade irrelevante do ponto de vista econômico e populacional (quando comparadas a muitas outras cidades mineiras), como territorialmente não justifica priorizar um local que tem um aeroporto tão completo, como o Divinópolis, numa proximidade. Ademais, ver regiões como o leste mineiro depender apenas de Ipatinga, Guanhães ou Valadares é bem incoerente. Certamente, Itabira ou Barão de Cocais mereciam um melhor investimento e com a prioridade maior que a de Cláudio.

Aécio tem muito o que explicar, pois, para o azar dele, o aeroporto fica a 6km da fazenda que ele, assumidamente tanto gosta de frequentar. Muitas pessoas podem acreditar que ele usou o governo (desde o planejamento até a execução do projeto) para poder beneficiar não só a ele, mas também os familiares, com esta pista tão conveniente para seus interesses particulares. Espero que o ex-governador (como o homem público que é)  possa provar que, efetivamente, Cláudio é uma cidade que merecia tal aeroporto, com tal investimento e prioridade.